Ex-jogador do Sporting admite que fumava drogas em Alcochete
Nesta quinta-feira, Matheus Pereira partilhou uma carta aberta no portal The Players’ Tribune, onde expôs os desafios que enfrentou desde tenra idade, quando veio do Brasil para Portugal com a mãe em busca de uma vida melhor.
O jogador do Cruzeiro começou a sua jornada no futebol na Trafaria, do outro lado do rio Tejo, antes de ser descoberto por José Meirelles, um olheiro, e levado para o Sporting, um cenário que ele descreve como improvável: “Passei dois anos no Sporting apenas a treinar. Não pude competir nos jogos, pois era um imigrante ilegal”.
“É uma condição desconfortável, essa, de medo e insegurança. Por outro lado, eu era um imigrante ilegal que só queria divertir-se num clube que estava a acreditar em mim. Principalmente, porque eu rebentava nos treinos, jogava muito, confirmando que o olho do olheiro era bom mesmo”, começou por dizer.
“A situação em casa é que não ia bem. Um tempo depois de assinar com o Sporting, os meus pais separaram-se, e tive de me mudar outra vez. Agora, sozinho. Fui morar no centro de treinos, e quase deitei tudo a perder. Desde os tempos com a minha avó surda e muda que sentia uma grande insatisfação dentro mim”, continuou.
“Uma rebeldia que eu não sabia de onde vinha, uma necessidade de desafiar, desobedecer, uma inquietude que me consumia. A viver no centro de treinos, mais uma vez, sem ninguém a olhar por mim ou a falar-me sobre as coisas importantes, fui brincar na beira do abismo”, concluiu.
O jogador lembrou que começou a consumir drogas. “Juntei-me à rodinha da maconha e passava muito, muito tempo chapado. Também bebia um monte e gastava o dinheiro que sobrava em baladas. Depois, sentia-me um trapo, um miserável. Culpava-me de um jeito insuportável ao imaginar a tristeza dos meus pais se soubessem”, afirmou.
“Lá em Alcochete, onde tinha alguns ‘amigos’, a sexta-feira era o nosso dia de enfiar o pé na jaca. Ao final da tarde, juntavamo-nos num canto, e eu era o encarregado de enrolar o baseado. Aquilo fazia-me sentir o cara, forte, sabedor de todas as respostas. Houve uma sexta-feira em que enrolei o baseado, passei e, quando ele voltou parar mim, olhei a cena toda ao redor e deu-me um negócio”, continuou.
“Acho que foi o Espírito Santo a sussurrar ao meu ouvido… ‘Não. Hoje, eu não quero droga’, falei para os rapazes, que gozaram comigo. ‘Amanhã, há jogo contra o Benfica, e eu quero jogar bem’. Eles riram. No dia seguinte, acabei o jogo e foi sorteado para ir ao antidoping. Imagina! Se fosse em qualquer outra partida da temporada, ia dar me***”, finalizou.