Kika Nazareth deu uma longa entrevista, não esqueceu o Benfica e abordou o valor dado pelo Barcelona
Kika Nazareth, ex-jogadora do Benfica, foi a entrevistada pela revista Forbes Portugal. Na entrevista, divulgada na quarta-feira, partilhou as suas experiências sobre a adaptação ao Barcelona, descrevendo-a como a realização de um sonho.
“É outro nível. Lembro-me que no primeiro treino estava ‘onde é que eu me vim meter?’. Era de um lado para o outro, bola para aqui, bola para ali. No início, a Aitana [Bonmatí], a Alexia [Putellas], as que estão na seleção, estavam nos Jogos Olímpicos, então estivemos a treinar com as mais novas. É outro mundo. Eu sinto que em duas semanas experienciei coisas que nunca vi”, começou por dizer.
“E não digo que no Benfica não houvesse qualidade, porque há muita qualidade, mas, mais uma vez sem comparar, é outro mundo. É jogar com as melhores, é fácil jogar com elas, pensam todas da mesma forma. Por algum motivo são as melhores do mundo. A mim dá-me gosto ver dentro de campo e dá seguramente gosto a quem vê de fora o Barcelona jogar. É surreal”, continuou.
“É todo um processo, há dias bons e dias menos bons. Vim de um contexto muito familiar, o Benfica é casa e sempre será casa. De um dia para o outro vivo sozinha, não tenho, para já, amigas daquelas que se contam pelos dedos da mão. Tenho colegas de equipa que me têm recebido de uma forma extraordinária, mas não deixa de ser diferente. Está a ser uma adaptação mais difícil do que eu esperava, mas não por elas, talvez por mim. Eu sou, e toda a gente sabe, muito extrovertida e muito à vontade. Se calhar aqui, por ser o Barcelona, encolho-me um bocadinho e ainda não estou tão aquela Kika que as pessoas conhecem. Mas, por outro lado, também sei que as coisas vão lá com o tempo, que não chego aqui e faço as parvoíces que fazia no Benfica”, disse ainda.
“Fui recebida da melhor maneira possível, também tenho sorte de falar espanhol ou portunhol de uma forma que eles me percebam, o que torna as coisas um bocadinho mais fáceis. E também tenho a sorte, e isto foi uma coisa que a Alexia me disse há uns dias, não só de falar o mesmo idioma que elas fora de campo, mas também dentro de campo. Foi uma das coisas que mais me marcou desde que estou aqui. Tenho muito para aprender, obviamente, tenho muito para evoluir. Ainda sinto que dentro de campo, da mesma forma que fora, não estou a Kika. Tenho de ir atrás dessa Kika, que mais tarde ou mais cedo vai aparecer”, prosseguiu, concluindo com o valor que o Barcelona pagou por si.
“Em tom de desabafo, acho que traz mais responsabilidades negativas do que positivas. Pelo menos da forma como eu lido com este número, que é extraordinariamente grande e às vezes assusta. Por mais que eu seja feliz, e estou muito feliz, por mais que eu me queira esquecer desta parte dos dinheiros e só me queira focar na felicidade, às vezes estas coisas vêm ao de cima. E o dinheiro traz responsabilidade e inseguranças. E dou um exemplo muito básico: eu falho um passe – e isto são coisas que têm de ser trabalhadas – mas é uma pressão acrescida. Falho e em vez de pensar que a seguir tenho outro passe, penso: ‘bolas, pagaram isso por mim e eu agora estou a fazer isto?’. Se pagaram este valor para eu estar aqui, é porque acreditam, é porque eu tenho valor. E eu acredito, eu acredito que posso eventualmente valer isto. É o mundo do futebol, e por um lado ainda bem que as coisas estão a crescer e daqui para a frente muitas mais transferências serão feitas, mas é uma pressão acrescida. Eu também tenho de conseguir mudar esta minha forma de pensar, tenho de dar valor a mim própria, e isso é reconhecer a minha qualidade. Mas às vezes é muito estranho. Nós que estamos habituadas a ver as transferências do masculino, as transferências das melhores jogadoras do mundo, a Keira [Walsh] por exemplo, e do nada é comigo. É um bocadinho estranho de processar tanta informação e tantos números, e obviamente que isto impacta dentro e fora do campo”, concluiu