Rui Costa admite ter tido medo que o “Saco Azul” prejudicasse a equipa de futebol do Benfica

Rui Costa, presidente do Benfica, afirmou esta quarta-feira em tribunal que, aquando da revelação pública do processo conhecido como ‘Saco Azul’, o clube temeu que o caso pudesse afetar o desempenho da equipa de futebol. Em declarações prestadas no Juízo Central Criminal de Lisboa, o líder encarnado garantiu, ainda assim, que havia confiança nas pessoas envolvidas nos contratos sob suspeita.
“Quando o caso foi tornado público, sentimos mais revolta do que preocupação, até porque sabemos que muitas vezes isto se reflete em campo. A revolta foi grande internamente, mas o foco passou a ser dentro do campo”, disse Rui Costa, acrescentando: “Tememos o medo que os árbitros poderiam ter a apitar jogos do Benfica”.
Durante a sessão, o juiz Vítor Teixeira e Costa esclareceu que, apesar de ter havido rumores sobre a alegada utilização do ‘Saco Azul’ para corromper árbitros, essa suspeita não consta da acusação. “A acusação não faz a relação entre o dinheiro e o seu uso”, frisou.
Na qualidade de representante da SAD do Benfica, Rui Costa foi o primeiro a depor e assegurou não ter razões para duvidar da utilidade dos contratos em causa, admitindo que muitos deles foram celebrados sem passar pelo Conselho de Administração. Referiu também que Miguel Moreira, então diretor financeiro e agora arguido, tinha autonomia para os gerir.
“Grande parte desses contratos passava pelo Miguel Moreira, ele tinha autonomia. O Luís Filipe Vieira [presidente na altura dos factos] não tinha conhecimentos de tecnologia informática (IT)”, disse Rui Costa, que negou ter conhecimento da circulação de grandes quantias em dinheiro vivo no clube.
O processo, que começou esta quarta-feira a ser julgado, investiga um alegado esquema de pagamentos fictícios à empresa externa QuestãoFlexível, no valor de mais de 1,8 milhões de euros.
Na sessão da tarde, José Bernardes — proprietário da QuestãoFlexível — respondeu ao coletivo de juízes, confirmando que a sua relação contratual com o Benfica passava exclusivamente por Miguel Moreira e que nunca se encontrou com Luís Filipe Vieira. Bernardes explicou ainda a criação da empresa, que teve o Benfica como único cliente, bem como a cedência de posições noutras empresas para prestação de serviços ao clube.
O empresário continuará a ser ouvido na próxima sessão, agendada para 8 de maio, data em que também está previsto o depoimento de Luís Filipe Vieira, agora arguido no processo.
Segundo a acusação, Luís Filipe Vieira enfrenta três crimes de fraude fiscal qualificada e 19 de falsificação de documentos. Domingos Soares de Oliveira, ex-administrador (atualmente fora do país), e Miguel Moreira, ex-diretor financeiro, enfrentam acusações semelhantes, bem como a própria QuestãoFlexível e o empresário José Bernardes, que responde também por branqueamento de capitais.
O processo envolve ainda os arguidos Paulo Silva e José Raposo, sendo que a SAD do Benfica é acusada de dois crimes de fraude fiscal qualificada, e a Benfica Estádio de um crime de fraude fiscal e 19 de falsificação de documentos.