Carta aberta de adepto benfiquista para Roger Schmidt
Roger Schmidt tem sido muito elogiado desde que o Benfica garantiu o 38º titulo após vencer o Santa Clara no último jogo do campeonato. O treinador alemão é considerado como uma das partes mais importantes desta conquista e um adepto encarnado decidiu dirigir uma “carta aberta” a Schmidt.
Carta aberta para Roger Schmidt:
“Roger Schmidt provou que não é preciso ser Darth Vader para ganhar
1.
O Benfica foi campeão nacional e a festa do Marquês não desiludiu.
Esmagador o peso do futebol.
Esmagadora a força nacional do Benfica.
Honra ao vencedor e honra aos vencidos, sobretudo ao FC. Porto que tentou tudo para que a história não fosse essa – muito impressionante o modo como Sérgio Conceição conseguiu motivar os seus jogadores para a concretização de um objetivo considerado impossível pela maioria – a começar por mim.
Impressionante a força identitária do clube imaginado há 40 anos por Pinto da Costa e José Maria Pedroto. Sempre até ao fim.
Gostando ou odiando, sempre até ao fim.
2.
Na minha juventude, confesso-te, só tive um ídolo: Rui Costa.
Chorei três vezes a ver futebol e numa delas num particular – o jogo em que Rui chorou ao marcar um golo ao seu Benfica no Estádio da Luz.
Esta vitória é em primeiro lugar do “maestro” e estou mais do que feliz por ele. Além do mais, Rui Costa é uma pessoa boa, não sou eu que o digo, mas literalmente todas as pessoas que o conheceram, que o conhecem; gente do Sporting, do FC. Porto, gente que pode dizer mal do Benfica, mas que não consegue dizer mal do Rui.
E isso é bom, num tempo em que glorificamos, com poucas exceções, os que não são boas pessoas, os que fazem cara de mau, os que parecem sempre prontos a vender a alma em troco de vitórias, é excelente podermos glorificar um homem bom.
3.
E é por isso que quero dedicar este postal do dia a Roger Schmidt.
O treinador alemão chegou e ganhou na sua primeira temporada. Não era linear que assim acontecesse, o Benfica não ganhava nada há três ou quatro temporadas.
Não só ganhou o campeonato como fez sonhar o Benfica com uma vitória na Liga dos Campeões.
Potenciou jogadores em quem ninguém acreditava.
Acreditou em jovens que colocou a jogar sem hesitações.
E, é esse o meu ponto, mostrou uma urbanidade a que não estamos muito habituados.
4.
Não sei se Roger Schmidt é uma boa pessoa.
Sei que também tem mau feitio, não gosta de perder e protesta com os árbitros, mas a grande diferença, a enorme diferença, é o respeito com que trata os adversários, a maneira como responde quando é interpelado, a forma como está perante a vida, sem parecer carregar o peso do mundo às costas, sem agredir com palavras ou atos, sem parecer soberbo ou arrogante ou ameaçador.
Não é um pormenor.
Nós parecemos sempre muito mais convencidos com gente que não é assim, na verdade com gente que é o contrário de Schmidt.
Agressiva.
Arrogante.
Ameaçadora.
Somos capazes de confiar mais em personalidades como Jorge Jesus, Sérgio Conceição ou José Mourinho do que em pessoas como Roger Schmidt ou Bruno Lage, só para falar dos últimos campeões pelo Benfica.
Lage foi corrido pela obsessão de Luís Filipe Vieira em ir buscar um bad boy – se os espíritos bons se encontram também os espíritos maus se procuram.
Não quero ser mal interpretado.
Para mim, correndo o risco de desiludir muitas pessoas, Sérgio Conceição é o melhor treinador português.
Mas o meu ponto não é esse.
O meu ponto é o de aplaudir a possibilidade de nós podermos dizer – mesmo que sejamos do Sporting ou do FC. Porto – que há outras vias para o sucesso.
Não é necessário estarmos sempre de mal com o mundo, estarmos sempre a falar alto, estarmos sempre zangados, sempre com suspeições e sempre a ameaçar com novas culpas e novas feridas.
É um cansaço muito grande.
A vitória de Roger Schmidt prova que podemos ganhar sendo o contrário.
Gostando de viver a vida.
Beber um bom vinho tinto, comer um bom peixe ou um bom marisco. Aproveitar o Sol que temos, o mar e o rio, a vida.
Podemos ganhar, no futebol e em cada um dos nossos caminhos, sendo mais humanos, mais simpáticos, mais luminosos.
Não temos de ser Darth Vader todos os dias.
Obrigado, Roger Schmidt.
Pelo exemplo, pela simpatia e pela vitória.”