Tudo o que disse Frederico Varandas na entrevista à Sporting TV
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Frederico Varandas deu uma entrevista à Sporting TV em que abordou vários temas da atualidade, nomeadamente as inúmeras lesões que têm assombrado a equipa leonina.
Eliminação da Liga dos Campeões:
“O Sporting tinha objetivos delineados, queríamos chegar ao playoff e conseguimos após uma boa fase de grupos. Amealhámos 50 M€ e defrontámos depois uma equipa forte, mas fica um sentimento amargo pois com outras condições podíamos discutir a passagem mas isso não aconteceu. Tínhamos opções que foram fáceis de tomar… temos de ser realistas e pragmáticos e ver os soldados para decidir as batalhas. Nós tínhamos uma limitação muito grande e não podíamos dar mais minutos a jogadores sobrecarregados e decidimos o campeonato.”
Plantel construído para Rúben Amorim:
“Este plantel foi construído para o treinador que tínhamos, um plantel ajustado ao anterior treinador. É óbvio que foi um plantel talhado para o sistema de jogo para o treinador. Obviamente que podemos dizer aqui, se é curto ou comprido, sempre deu resultados do ponto de vista competitivo. Acontece que, por várias circunstâncias, mudando de equipa técnica, é um plantel ajustado a um sistema de jogo que hoje não se aplica. Não passou por nós, não queríamos que assim fosse, mas assim é.”
Mercado de janeiro:
“O Sporting começa a preparar a época ainda antes de acabar a anterior. Traçámos um objetivo ambicioso, mas realista, que exigiu que a SAD fosse a um limite a que nunca tinha ido. Foi-nos pedido isso e fazia todo o sentido. Não vendemos um único titular. Uma equipa que não foi apenas campeã, fez a melhor época dos últimos 70 anos a nível de performance. Não vendemos um titular. A SAD investiu cerca de 60 milhões de euros em jogadores que entraram. Maxi Araujo, Debast, Harder, Kovacevic, Rui Silva, Biel… Foi um esforço muito grande. Basta recordar, posso dar estes números, quando chegámos aqui em 2018, o orçamento de investimento andava nos 30 milhões. Desde que esta direção está aqui, foi o ano em que vendemos menos. Fizemos uma aposta consciente, mas arrojada do ponto de vista de investimento. Como é óbvio, e tudo o que se passa, então o mercado de janeiro? Quem me dera a mim dizer que temos a saúda financeira de um City ou PSG. Imagine a época anterior, tivemos poucas lesões. Imagine que o Gyokeres tem uma lesão grave que o impossibilita de jogar até ao fim da época. Tinha mais 20 milhões para ir buscar um jogador em janeiro? O Sporting ia ser campeão? Se calhar não. Não é por haver duas ou três lesões, que há aqui uma gaveta onde tiro fundos ilimitados.”
Falta de investimento em janeiro:
“O esforço que o Sporting fez, não vender titulares e investir mais 65 milhões em jogadores. Não é por ter lesões, que vou ter mais capacidade de investimento. Quem me dera. O Pote lesiona-se, há dinheiro para investir em janeiro? Não, não há. É um mercado extremamente difícil, caro. Basta o exemplo do City que pagou 60 milhões por um Nico González. Quanto custa um Pote? Os clubes não têm interesse em vender os principais ativos. Ou então jogadores sem tanto peso. É um mercado que obriga a ir buscar jogadores a outros mercados, como sul-americano, e é preciso uma adaptação.”
Contratação de Biel e Rui Silva:
“Certo. Mas se pudesse tínhamos mais jogadores. De quem é a responsabilidade se o Sporting não for campeão? Sou sócio do Sporting desde que nasci. Sempre ativo na vida do clube. Tenho 45 anos, quando cheguei não tinha 40. 21 anos de Gamebox, acompanhei sempre o Sporting. Nestes meus quase 40 anos, celebrei dois títulos nacionais. Lembro-me. Dos melhores dias da minha vida. Já celebrámos esses mesmos dois, fora taças e títulos das modalidades, desde que estamos aqui. Esta responsabilidade é desta direção. De tudo. Mas primeiro temos de ir atrás. A palavra bicampeonato pertencia ao imaginário no Sporting. É preciso recuar quase 70 anos. Não sei se vamos ser bi, tricampeões. O que sei é que o Sporting existe e é considerada uma equipa a ganhar. Hoje o Sporitng, ainda vi uma conferência antes do Arouca, e vi o meu treinador a ser questionado. Estamos em quarto ou quinto lugar? Não, estamos em primeiro e se olharmos para a camisola dos jogadores, vejo o símbolo de campeão nacional e isto é trabalho desta direção. Um Sporting que não contava. 40 anos em que dois clubes ganhavam, depois o Sporting ganhava uma vez. Fico feliz pela palavra bicampeão existir no dicionário do Sporting.”
Saída de Marcus Edwards:
“Decisão da administração. É um ativo que é nosso, tem talento e acreditamos nele. Obviamente temos de ser melhores para trazer o melhor Edwards e ele tem de ser melhor para dar o melhor de si. É nosso e acreditamos que o melhor era emprestar.”
Saída de Kovacevic:
“Foi um jogador que não teve um início fácil, não se adaptou e da forma mais crua e transparente, não correspondeu às expectativas e daí a vinda do Rui Silva. Guarda-redes era prioridade. Tentámos não… É um mercado difícil. Trazer jogadores com qualidade inquestionável, não temos capacidade para isso.”
Gyokeres apontado a uma saída:
“Não vou… O Gyokeres, no verão, há um ano, há um ano e meio atrás… O Gyokeres ia sair. Fomos campeões e já se ia embora. Em janeiro era impossível e ficou. Não vou alimentar, já é demasiado mediático, por mérito dele e não vale a pena falar no mercado de verão. Os jogadores têm mercado e cláusulas.”
Muitas lesões:
“A lesão existe no desporto, é um facto. O Sporting, nestes últimos… Temos tido épocas com poucas lesões. Não quero estar a falhar. Daniel Bragança há dois anos, até lá lesões como todos os clubes têm. Poucas lesões traumáticas e musculares. O que é que acontece este ano? Temos tido muitas lesões traumáticas. Cinco são lesões traumáticas, três graves, e três musculares.”
Unidade de performance e lesão do Pote:
“É uma área que já existia mas não tínhamos recursos para tal. A unidade de perfomance. Unidade essa que tem dos melhores profissionais e foi tendo desde 2019, nada em falta em termos de aparelhos, gestão. Pertence à direção clínica, a equipa técnica recebe o jogador pronto para treinar e jogar. Nunca houve um ruído desde 2019. Os profissionais são os mesmos. Depois muita gente fala e diz-se muita asneira. Existe muito rumor e telenovelas. O diretor clínico escolhido por mim, Dr. João Pedro Araújo, é diretor clínico desde 2018, é um médico referenciado a nível nacional e internacional. Pertence a uma rede de médicos da FIFA. Depois abaixo temos o responsável da fisioterapia, o coordenador, que, neste verão, recebeu uma proposta de um clube grande inglês. Não vou revelar. São essas pessoas que estão no Sporting. Existem lesões traumáticas que não se controlam. A vida umas vezes dá e outras tira. Estas lesões… Nuno Santos com lesão gravíssima no joelho, Bragança também. João Simões com uma lesão grave do pé. A lesão do Pote, muito se falou, é uma lesão muscular grave. O Havertz sofreu a mesma lesão do Pote, o Arsenal informou que não joga mais. Akanji igual. O Nuno Mendes sofreu a mesma lesão, esteve parado mais de 4 meses. Não há milagres. Existem duas formas de encarar, as coisas que controlámos e as que não controlámos. Começar a disparar, quem é culpado, é bruxedo, é culpa do médico, da relva, botas, treino… Existe outra forma: com calma e de forma racional, reagir e adaptarmo-nos. Está a ser duro para o treinador? Está. Neste momento, aquele grupo, ontem viemos da Alemanha com mais duas lesões. Este grupo não se rende e é unido. Eles são campeões e não será fácil para nenhuma equipa tirar-lhes o título.”
Chegada de Rui Borges:
“Acaba de entrar, não fez pré-época, não tinha um plantel para o sistema de jogo, com o número de lesões não consegue fazer treinos. Continuam a jogar e mesmo eles queimam um dia ou dois para jogar. Temos de queimar estas etapas. Morita é um exemplo. Veio de lesão, recuperou, clinicamente está apto, mas não tem condição física ideal e fez nova lesão.”
Carga de jogos:
“Fui ver o que é oficial, das equipas que jogaram os play-off, e quais os lesionados que declararam oficial. PSV 5, Feyenoord 10, Aston Villa 6, Juventus 5, Real Madrid 5, Benfica 5 ou 6… É isto. Do ponto de vista científico, com esta mudança o número de lesões aumentaram. Teremos de analisar. A UEFA terá de analisar. Não é só no campeonato e nas nossas ligas. É também a nível de seleções. Acho que se calhar é abdicar de competições como Taça da Liga. Temos de encarar de maneira diferente. Queremos estar na Champions, acho que tem de ser… São muitos clubes com muitas lesões e todos disputam a Champions.”
Saída de Hugo Viana:
“Havia um compromisso, desde outubro, para ele ser diretor desportivo do Manchester City na época seguinte. Durante o mercado de janeiro, o Hugo Viana informou-me, por razões familiares, que queria seguir a sua vida. Foi uma decisão pessoal e não tínhamos outra alternativa.”
Arbitragem:
“Temos uma forma de estar onde tentamos valorizar o futebol português, criar um ambiente positivo e, desde o primeiro dia, temos uma política para que se valorize a carreira do árbitro. É dar condições higiénicas de poder trabalhar. É muito fácil neste cargo ou no cargo dos nossos rivais cair na tentação de sistematicamente, a seguir a um desaire, vir intoxicar. Não nos revemos nessa forma de estar, comunicar e o Sporting tenta dizer de forma construtiva e objetiva e faz crítica para melhorar o que está menos bem e o que podemos fazer diferente para a frente. Na altura, em finais de dezembro, se puder fazer uma análise desde aí, considero que o critério de arbitragem de que o Sporting é alvo nos jogos é diferente para os rivais que lutam para os mesmos objetivos do Sporting.”
“Gosto de dizer porque achamos isso, e o que vejo em Alvalade, quando o Sporting joga, e atenção: em Alvalade o árbitro é bem tratado, porque deve ser assim. Enquanto estivermos no Sporting, os árbitros serão bem tratados, ninguém desce para os intimidar. Os árbitros têm todas as condições para trabalhar lá e terão sempre. Fico contente por um árbitro chegar a Alvalade e ser livre na sua função. Deixo um alerta porque o Sporting revê-se nesta forma de estar, mas a mim Sporting custa ver um jogador a encostar a cabeça a um árbitro e não acontece nada; um jogador nosso encosta a um adversário e mal, porque só pelo encosto deve levar amarelo, mas o adversário simula uma agressão e um jogador é expulso. Temos um critério, como no jogo com o Arouca, em que se marca penálti por agarrões e empurrões. Mas custa-me a entender na mesma jornada o FC Porto ganhar com um golo num lance em que há um empurrão grosseiro e o VAR desvaloriza esse empurrão. Em Alvalade o VAR marca penálti. Este critério faz confusão.”
“Há 2 jornadas, outro nosso rival tem um penálti a favor por uma mão. Aos 90’, na mesma zona do terreno, na mesma posição, um jogador do Benfica faz um gesto mais grosseiro e não houve critério igual. Esta diferenciação de critério, por exemplo possível penálti no Dragão sobre o Quenda: quantos penáltis se marcaram assim? Porque tocou na bola mas rasteirou o pé. Até se podia não marcar penálti, mas definam um critério. Porque esse critério tem prejudicado o Sporting. O CA reconheceu os erros na altura do João Pereira e custaram 5 pontos ao Sporting. Agora também nos custou pontos. A comunicação social faz a liga da verdade, com comentadores, e mais ponto menos ponto este campeonato estaria decidido, segundo os ex-árbitros. Estamos a falar de muitos pontos de diferença. Não tem havido esse critério.”
Luciano Gonçalves:
“Espero que os árbitros, seja onde for, se tiverem que marcar um penálti, marquem. Se forem alvos da newsletter habitual e intoxicação, não se deixem intimidar ou condicionar. Se o lance do Morten é penálti por agarrão, então marquem todos, todos.”
Pedro Proença:
“A escolha do apoio do Sporting foi fácil em virtude das pessoas e projeto. Apoiámos pela visão que tem em melhorar a transparência e qualidade da arbitragem. Neste anos o Sporting bateu-se por medidas para melhorar a arbitragem. Como publicação da nota dos árbitro, para ver quem avalia os árbitros e como são avaliados. Quem não deve, não teme. Vamos lá, avaliámos e observamos que nota cada arbitragem teve. Não há nada a esconder. Segundo, a especialização na carreira de VAR. Não concordamos com algo perigoso que é que os árbitros, que hoje em dia têm a sua ambição, acabam por estar numa competição entre árbitros. Eu vou ser VAR e um árbitro VAR sabe que se tomar uma decisão vai influenciar a nota do árbitro. Claro que isto afeta o seu juízo. O Sporting defende que deve haver uma carreira específica de VAR. Quem é VAR é VAR, e quem é árbito é árbitro. E também defendemos a criação de uma entidade externa que conduza a arbitragem. Quarto ponto: a valorização da carreira de árbitro. O árbitro deve ter as melhores condições financeiras, de trabalho, de treino, de recrutamento e está no programa eleitoral de Pedro Proença e Luciano Gonçalves.”
Árbitro Tiago Martins:
“Comecei pela nossa forma de estar e faço um apelo aos árbitros pela forma como reagem a determinados tipos de confiança. Dou o exemplo do Tiago Martins no Famalicão-FC Porto, teve uma decisão onde anulou um golo ao FC Porto e marcou um penálti para o Famalicão. Foi uma decisão correta do Tiago Martins. O FC Porto perdeu pontos e depois vimos uma comunicação old school que já vimos várias vezes e foi pedida uma reunião ao CA… Eu não faço isso. Houve muito ruído e tudo a bater no Tiago Martins. Depois voltou a apitar o Nacional-FC Porto e há uma entrada para cartão vermelho e o Tiago Martins mostra amarelo. O VAR chamou-o e o Tiago Martins manteve o amarelo. Não tenho dúvidas que tomou a decisão por ter sido condicionado. O Tiago Martins tem de pensar que assim estes clubes pensam que vale a pena e está a prejudicar a vida dos seus colegas pois, sempre que um grande perder, lá vem a newsletter longuíssima a queixar-se e não saímos disto. Depois, o Tiago Martins é VAR num jogo em que podíamos ter saído com seis pontos de vantagem. O João Pinheiro pareceu-lhe ver uma agressão de Diomande. O VAR, tranquilo, não viu que não houve agressão e não pediu ao João Pinheiro que fosse ver. Por causa desse cartão, por azar, o Diomande não pôde jogar com o Arouca e por acaso jogou o St. Juste que se lesionou e marcou na própria baliza”
Declarações de Augusto Inácio:
“O Sporting sempre teve um diretor clínico que faz o que entender no seu departamento. Isso para mim está no nível do conteúdo do lixo. O Sporting utilizou pontualmente essa clínica quando eu fui diretor clínico. Até Bruno de Carvalho queria que eu cobrasse esses serviços. Nunca foi nada cobrado desde 2015. Não há um cêntimo, nada. O senhor Augusto Inácio vai responder no sítio certo. Conheço-o muito bem, trabalhei com ele duas vezes. Com Bruno de Carvalho preso por dias ele aceitou voltar ao Sporting com um contrato considerável. Para perceberem o que é ele, um dos processos que herdámos e o do Sinisa Mihajlovic. Ele testemunhou por ele em tribunal. O CAS retirou o testemunho de Augusto Inácio por não ser credível. Foi decisivo para o Sporting pagar 3 milhões de euros a Mihajlovic. No dia em que ouvir Augusto Inácio dizer bem de mim, tenho de pensar se sou a pessoa certa para educar os meus filhos.”
Ausência de mensagem após o falecimento de Pinto da Costa:
“Fiquei supreendido pelo barulho do assunto. Se há pessoa que ultrapassa as questões pessoais sou eu. Falo com tantas pessoas que quando deixar de ser presidente do Sporting não vão voltar a ouvir a minha voz. Foi uma decisão institucional, que nada teve a ver com o presidente. Se a instituição Sporting não se revê em quem prejudicou o clube, a indústria do futebol e os nossos valores, seria uma hipocrisia mudar por essa pessoa ter morrido. Há pessoas com a coluna vertebral flexível mas eu não a tenho e vou estar sempre do lado dos meus valores e princípios. Sei que no final do dia terei muitas pessoas que não gostam de mim, mas faz parte. Enquanto estiver aqui vou fazer o que ditam os meus princípios”