Tudo o que disse Sérgio Conceição na primeira conferência em mais de um mês
Sérgio Conceição esclareceu vários temas da atualidade do Futebol Clube do Porto no regresso às conferências de imprensa, situação que já não acontecia há mais de um mês, sendo que a última foi a 8 de Agosto.
Golos sofridos:
“Foi uma das situações que trabalhámos, ao nível da organização defensiva. A base para se ganhar é não sofrer golos. Foi um dos aspetos que trabalhámos.”
Lutar por títulos:
“Estamos à quarta jornada. Estou a falar para os críticos. Falando do Francisco [Conceição], houve muita gente que não compreendeu. Eu não compreendo essa compreensão, porque é um jogador extremamente válido no que é a forma de jogar e desequilibrar, é irreverente, o que necessitávamos, até pelo que temos nas alas, olhando para o histórico de lesões do Veron. É um jogador que veio a ‘custo zero’, que faz parte da formação. Se o clube tiver de pagar a cláusula, é bom sinal, porque é um jogador que pode ser importante, assim como o Jorge [Sánchez] é uma excelente solução para lateral-direito. Tentámos equilibrar o plantel de forma a termos diferentes soluções. O futuro próximo será de seis jogos em 24 dias. Vamos precisar de toda a gente que tenha qualidade e conheça o clube. O Francisco ama o clube, ama a cidade, está dentro do nosso trabalho. A ‘custo zero’, com a sua qualidade, não há ninguém, porque, se não, teríamos ido buscá-lo. Pode ajudar-nos muito esta época.”
Novidades na linha avançada:
“São jogadores que conhecem muito bem o que queremos para os diferentes jogos. No início da época, o mercado aberto mexe muito com o balneário. Mesmo blindando a porta do Olival, a informação é muita. Os jogadores têm muita gente que gravita no seu ambiente e não é fácil haver tranquilidade de espírito para, depois, se responder da melhor forma. Mesmo tendo entrado mal nos jogos, ainda jogámos pouquinho, na minha opinião. Nos inícios de épocas, dou sempre mais minutos aos jogadores que conhecem bem todo o processo de treino e o que queremos para os jogos. Não quer dizer que não vá mudando. Houve uma alteração, que foi o Nico González, que entrou na equipa, e o Varela no decorrer do jogo, mas, olhando para o histórico, é muito por aí. Quando dizemos que a qualidade dos jogadores e das equipas técnicas é superior, não há jogos fáceis. O bonito do futebol é isso. Temos como exemplo o facto de os quatro primeiros da última temporada já terem perdido pontos, e isso diz que temos uma Liga em que se deve falar mais disto do que dos outros temas. Eu prefiro, no início de época, dar mais minutos a quem tem um conhecimento superior aos que chegam. O Marchesín, quando chegou, entrou na baliza. O Uribe também entrou. Eram jogadores que achava que, pela experiência, eram capazes de entrar na equipa e não haver uma grande diferença. Este tempo foi importante para trabalhar no que achamos que temos de melhorar, mas não em tudo. O jogo do Estrela vai-nos causar dificuldades diferentes daquelas que o do Arouca causou. Isto, agora, é correção, treino, jogo.”
Divulgação dos áudios do VAR:
“Tenho de ter muito cuidado a falar de arbitragens. Vou dar um exemplo muito curto. Houve uma antevisão a um jogo com o Marítimo em que me falaram de antijogo e o Lito Vidigal era o treinador do Marítimo. Acreditava, na altura, que os treinadores tinham estratégias para não sofrer golos e tentar marcar, mas, se o árbitro vê que há antijogo e de dar dez minutos de compensação, que dê. Não é que, nesse jogo, houve dez minutos de compensação? Nessa altura, dez minutos era um escândalo. Eu tive um processo por isso. Tenho de ter cuidado ao falar dessas questões. É importante toda a gente contribuir. Falo de mim e de todos os intervenientes diretos num trabalho difícil como é o do árbitro. Custa-me mais compreender os erros que têm cometido no VAR, porque, aí, não há a pressão do próprio jogo, dos jogadores, dos adeptos. Está-se confortavelmente tranquilo para tomar boas decisões, e não têm existido boas decisões. É uma fase que espero que passe, e que não é boa para o futebol português.”
Sérgio Conceição e a dupla personalidade:
“Deixaria a minha resposta para um programa do Daniel Oliveira, por exemplo, que me convidou duas ou três vezes e não pude estar presente. É uma excelente questão, mas, sinceramente… Quando, perante vocês, a minha família, os meus amigos e o público em geral, digo o que sinto, porque, se não, prefiro não dizer, não sou o mais genuíno possível, sou genuíno, digo aquilo que sinto. Olhando para o que fiz, é óbvio que mudaria alguns comportamentos, sem dúvida nenhuma, mas, naquele momento, fui o que fui. Amanhã, serei o que serei. A minha vida foi de luta. Acredito que a dos outros treinadores também tenha sido. Ninguém gosta de perder e toda a gente gosta de ganhar, mas há alguns que sentem de forma diferente. Se isto justifica tudo? Obviamente que não. Se atenua uma ou outra situação? Sim? Eu, como pessoa, aprendo todos os dias, e como treinador igual. É neste processo, em que sou apaixonado pela vida e respeito quem trabalha comigo, os meus amigos e família que procuro ser melhor hoje do que fui ontem. Faz parte da evolução da vida, e aceito-a de bom grado.”
Jogadores nas seleções:
“Foi bom, para trabalhar. O Gonçalo Ribeiro está a trabalhar connosco, vai alternando com o Meixedo. Nas fotos dos jogadores, tenho a dele também. O Sérgio Vieira e as pessoas do Estrela que me perdoem, mas, com estes temas todos, sei que havia alguma curiosidade em perceber a minha opinião, e compreendo. O importante é o trabalho que se fez aqui a pensar no Estrela, melhorando alguns aspetos que temos de melhorar obrigatoriamente, porque somos capazes de fazer mais e melhor do que fizemos agora. Isso é que é o nosso foco. Vamos passando por estas questões, mas é muito mais importante o trabalho que se faz aqui, para preparar a equipa para preparar jogos.”
Alterações na equipa devido ao mercado:
“A culpa é minha, de não ter falado mais vezes, mas fazer um balanço… É o que é. O que tenho de dizer quanto à duração do mercado… Alguns países ainda não fecharam, o que é extremamente prejudicial para as equipas de menor capacidade financeira. Estamos a falar de ‘timings’. O ‘timing’ para quem está a precisar, é sempre mau. Não é normal eu chegar à véspera de um jogo e ter um jogador fundamental a sair. Estou a falar do Otávio, que tem mais de 280 jogos, foi o melhor jogador do campeonato passado… Era super-importante na equipa, é óbvio. Eu cheguei a um sábado, véspera de jogo com o Farense, em que o Otávio esteve a semana toda para ir a jogo. Na sexta-feira, entrei numa clínica para fazer uma intervenção cirúrgica aos joelhos, e saí no sábado com o Otávio vendido. O presidente já falou sobre isso. O Otávio não queria treinar, eu sai do hospital, ainda não muito bem da anestesia, mas não é que, no dia a dia, esteja assim tão bem… Foi difícil perder um jogador da qualidade dele antes de um jogo. Não nos podemos esquecer que perdemos um campeonato por dois pontos. O jogo com o Farense valia três. Ganhámos, mas… Para nós, que somos exigentes, mudar a dinâmica da equipa, por um jogador com o peso que tinha… Assim como o Moutinho, que foi muito falado. O João teve a ver com esse ‘timing’. Inicialmente, o presidente falou-me dessa situação. Eu, olhando, não para o passado, mas pelo passado recente, pareceu-me que estava em condições de poder ajudar. Falei, inclusive, com o João Moutinho ao telefone, no início da semana, e, entretanto, com a saída do Otávio, houve que ajustar uma ou outra situação de mercado, ao nível da capacidade que temos, com grandes dificuldades. O ‘timing’ não foi o melhor, até porque, para essa posição, temos Romário Baró, Bernardo Folha, Nico, Varela, Grujic e Eustáquio. Naquele momento, com a saída do Otávio, houve coisas a ajustar. Como não existe a capacidade de, de um dia para outro, perder um jogador como o Otávio e ir buscar outro por mais 20 milhões, tivemos de conversar durante dois ou três dias do equilíbrio fundamental para termos sucesso em todas as competições, e o João optou por ir para Braga. O João, como Quaresma ou Pepe, faz parte do ADN do clube. Não consigo dizer mais nada porque, entretanto, não aconteceu mais nada.”
Tempos de compensação exagerados:
“É uma pergunta que dava pano para mangas. A compensação que é dada em relação às incidências do próprio jogo (…) é justa. É o que toda a gente andava a pedir, porque o tempo de jogo era dos mais baixos da Europa, mas isto é muito engraçado. Nós, como media de tempo de jogo, são 100 e poucos minutos, é das mais altas, mas, ao nível do tempo de útil jogo, somos a pior equipa. Isto quer dizer alguma coisa, presumo eu. Não estou a dizer que as equipas fazem antijogo contra nós, mas nos nossos jogos, tudo o que queremos, como velocidade e intensidade de jogo… É difícil. Se há 10, 15 ou 20 minutos de compensação, interessa ver quantos são jogados, porque estamos a dizer duas coisas antagónicas e que estão completamente associadas. Faz parte da nossa cultura e do querer ganhar. Cabe ao árbitro decidir se tem de jogar mais um minuto de compensação ou não. Acredito que isso se tem acentuado pelos resultados que temos tido nas primeiras partes. Temos ido quase sempre atrás do prejuízo, e queremos acelerar o jogo e que decorra de forma normal. Cabe-nos perceber o que está a acontecer. Eu tenho a minha opinião e já a dei algumas vezes.”
Críticas de Carlos Xavier no canal do Sporting a Taremi:
“A crítica que interessa ao Taremi é a dos colegas e a da equipa técnica, que é sempre construtiva. Pode ser negativa ou positiva, mas é sempre construtiva, e isso é que me interessa e ao Taremi. Ponto final.”
Sair do banco no jogo da Supertaça:
“Fui expulso, já passou. Fui castigado por isso. Passou, o importante é o Estrela da Amadora, amanhã. Houve uma situação de possível não falta que, pelos vistos, foi falta para o árbitro. Há imagens do banco todo a levantar-se. A expulsão foi feita a 20 ou 30 metros, eu não sabia para quem era. Depois, tive conhecimento que era para mim.”
Críticas de Rui Moreira, presidente da CM Porto:
“Isso já é falar de futebol e não do futebol, como eu gosto. Mas, como também não quero fugir a nada e há temas que são do interesse nacional, pelos vistos… Ao presidente da Câmara, pelo respeito que a cidade a que ele preside, a que eu tanto devo, acho que não devo responder. Ao vice-presidente do Conselho Superior, digo que acho que há pessoas adequadas para o efeito, nomeadamente, o nosso presidente e o presidente do Conselho Superior, o dr. Lourenço Pinto. Ao adepto, como há muitos que terão uma opinião diferente, mais agressiva ou menos agressiva… O adepto é o adepto. Mas como ele teve protagonismo e falou em público, eu vou responder em público. Acho mal a forma e o conteúdo, porque acho que é enganador. O meu passado é indelével, não se pode apagar, está lá. São dez títulos. Dos últimos sete, ganhei cinco. Nestes seis anos, entre receitas e gastos, há um saldo positivo de mais de 600 milhões de euros. Agora, tenho de perceber que estamos sempre sujeitos à crítica. Os verdadeiros adeptos, e não os pseudo-adeptos, têm de perceber que estamos num ano difícil para o clube. Passámos alguns anos sob alçada do fair-play financeiro e foi muito difícil sair dessa situação, precisamente, com o sucesso desportivo que tivemos, não total, mas com boas prestações na Europa. Saímos desse garrote que nos privou dos melhores jogadores e de nos reforçar como queremos. Os adeptos têm de ser inteligentes para perceber que há muita gente, num ano eleitoral, a querer posicionar-se. O que posso dizer? A minha mensagem vai direitinha ao verdadeiro adepto. Temos de estar juntos e unidos. Se não tivermos, vai ser mais difícil. Quando vejo um adepto criticar da forma como criticou, possivelmente, não gostará desta grandíssima instituição que é o FC Porto.”
Balanço do começo da época:
“Nós, treinadores, esperamos sempre mais. Houve momentos de brilhantismo nestes anos em que estou à frente do FC Porto, e achava que existiam situações a melhorar. Procuramos sempre o máximo, e o máximo é o que nos vão dando os treinos e os jogos. Há coisas que temos de melhorar. É verdade que ainda não perdemos e que estamos no primeiro lugar, mas tenho consciência de que podemos e devemos fazer mais do que fizemos até agora ao nível dos resultados. Estamos aqui para isso, para evoluir a equipa, para sermos competitivos, e, no final da época, fazer as contas e perceber o que fizemos de bem e menos bem.”
Jogo com o Estrela da Amadora:
“É um campo tradicionalmente difícil. Lembro-me, enquanto jogador, de grandes dificuldades que passámos contra o Estrela. Seis ou sete vitórias em 16 ou 17 jogos que o FC Porto fez naquele estádio. Olhamos para o momento da equipa, liderada pelo Sérgio, que tem feito um trabalho desde levar esta equipa da II Liga à I Liga. Ganhou ao Estoril, mas teve sempre prestações muito positivas e interessantes nos diferentes momentos do jogo. Cabe-nos ir a esse campo difícil, olhar para o que tem feito de bom na sua organização ofensiva e defensiva, porque é uma equipa interessante, e contrariar esse Estrela, que vai estar motivado por jogar contra um candidato ao título. Normalmente, as equipas tendem a subir ainda mais o nível, e temos de estar preparados para isso, chegando com as caraterísticas habituais da equipa e ganhar, com maior ou menor dificuldade.”
Regresso às conferências:
“O treinador gosta de fazer a antevisão dos jogos que tem, assim como as conferências e as ‘flashes’ depois dos mesmos. Gosta de estar no banco, é o meu papel. Gosto de treinar e gosto das conferências. Há alguma nostalgia, é o que é.”